Numa iniciativa do Município de Tondela, com a colaboração da Junta de freguesia local, as olarias Artantiga, Olaria Moderna e Barraca dos Oleiros, lançaram-se no desafio de, mais do que recriarem os ambientes de outrora, em homenagem aos antepassados oleiros da freguesia, realizarem com a sua arte e mestria de jovens artesãos e ceramistas, uma grande cozedura em soenga.
Pelas 6.40h da manhã, num amanhecer com odores campestres e primaveris, convidativo a um grande acontecimento como aquele que iríamos testemunhar, os oleiros colocaram na sequeira, as cerca de 150 peças que constituíam a produção a cozer. Neste processo de cozer numa cova no chão, a louça tem necessariamente que ser aquecida antes do processo de cozedura propriamente dito. Objectivo: não estoirar, aquando do contacto inicial com o lume, que é sempre forte e violento. E como os antigos sabiam. Práticas de um saber fazer que em tudo foi recuperado por esta jovem geração de oleiros.
Iniciada a cozedura, assistimos ao lento processo de aumento gradual da temperatura no “forno”, sempre com uma olhar atento dos jovens artesãos, ora colocando pequenas cavacas de pinho nos bueiros, ora refazendo a soenga, colocando aqui e acolá os “míticos” torrões de terra.
Quando a temperatura no seu interior atingiu, entre 850º-900º C, foi tempo de, com grande esforço e mestria, cobrir com terra a totalidade da cozedura. É a redução - pela ausência de oxigénio no seu interior - que leva às transformações físico-químicas dos óxidos metálicos componentes das argilas, e em última análise, à cor negra da louça, aquando da abertura, cerca de 6 ou 7 horas depois. Um odor a monóxido de carbono paira no ar. Como diz a tradição e afirmam os antigos: cheira a soenga.
É agora hora de apreensão e de cuidados redobrados, visto que os oleiros têm que estar atentos a qualquer fumarola que queira romper pela terra a fora. Seria um desastre e a perda das cerâmicas cozidas com tanto esforço.
Após um almoço retemperador de energias, o descanso merecido.
Pela tarde, foi a animação cultural. Primeiro com o Zé Rui do Trigo Limpo teatro ACERT, a encenar velhos tempos da arte na freguesia, numa memória comovida e saudosa da última geração de oleiros artesanais. Um recordar sempre presente. De seguida a actuação do Grupo de Cavaquinhos de Santiago de Besteiros, com melodias bem portuguesas.
Pelas 19.30h já muita população se concentrava ao redor da soenga, para assistir à desenforna. Com pás e enxadas, os oleiros retiram cuidadosamente a terra e os pedaços de torrões que ainda subsistiam. E foi ver elas a aparecerem, com as suas múltiplas e variadíssimas manchas a contrastarem com o seu tom metalizado. Um regalo ao olhar.
Depois foi a venda do produto final, numa simbiose de cor e alegria das gentes de Molelos e dos inúmeros visitantes que aderiram à iniciativa.
Para o ano há mais …