Coube este ano à Freguesia de Molelos, ser a anfitriã da iniciativa, na sequência de outras que, já no passado, receberam a “Festa” dos confrades e confreiras.
A receção às diferentes Confrarias convidadas (ritual de permuta que é normal neste tipo de eventos e que dinamiza em muito as economias locais), foi feita no salão da Junta de Freguesia de Molelos, com um pequeno-almoço reforçado, servido nas suas instalações, a todos os confrades e confreiras que afluíram ao acontecimento.
Depois dos estômagos bem temperados, até porque as condições atmosféricas estavam péssimas nesse dia, com muita pluviosidade e frio, rumaram em grupos para as olarias de barro negro de Molelos, onde foram recebidos pelos oleiros nas suas instalações de trabalho. Aí, os confrades, convidados e comunicação social presentes, puderam testemunhar as principais fases da cadeia operatória da produção do barro negro, ouvindo as explicações que os artesãos transmitiam. Alguns confrades mais afoitos, aproveitaram a oportunidade de, na roda elétrica, proporcionar aos presentes, algumas das suas habilidades, nada comparáveis às produções artísticas dos profissionais da olaria negra.
De regresso ao salão da junta de freguesia, foi a hora de congregar todos os representantes das confrarias presentes ao evento. Colocados os representantes das confrarias em lugar de destaque, procedeu-se de seguida à bênção dos estandartes e insígnias pelo pároco da paróquia do Guardão.
De seguida interveio para a oração de sapiência, o investigador Helder Abraços, que apresentou uma comunicação de título “barro negro de Molelos e seus saberes”. Principais pontos a reter da sua alocução: o conhecimento de alguns saberes relacionados com a lembrança da persistência de um sector profissional em Molelos, os oleiros de barro negro, no contexto dos habitantes da freguesia, características do produto que fabricam, informações técnicas e científicas (argilas caoliníticas, que apresentam para a fabricação de cerâmicas culinárias numerosas qualidades, nomeadamente uma boa resistência aos choques térmicos) resultantes da utilização de utensílios de barro, para a confeção de alimentos e, no caso presente, de tão lauda iguaria gastronómica: o cabrito assado, no forno, a lenha, numa assadeira, de barro negro de Molelos. Aliás de acordo com parte do texto exigido para a entronização dos confrades: exigir a confeção do cabrito em assadeira de barro negro de Molelos. E ainda da importância destas olarias no contexto nacional e das tarefas de salvaguarda e recuperação de segmentos do património cultural construído por essa comunidade.
De seguida procedeu-se ao cerimonial de entronização dos novos confrades efetivos e de honra: Carlos Manuel Marques de Jesus, profissional do ramo da restauração, como confrade Efetivo. Armindo Ferreira Antunes, empresário da restauração e a Junta de Freguesia do Guardão, como confrades de Honra.
Na ocasião, a Coordenadora Executiva da ADICES (Associação de Desenvolvimento de Iniciativas Culturais, Económicas e Sociais), Regina Lopes, aproveitando o evento da confraria, lançou publicamente o livro ”Sabores de ontem”, em que interveio como coordenadora geral. Obra importante para a região, mostra as gastronomias tradicionais da área de influência dos quatro concelhos que abrangem o território de intervenção da Adices.
De seguida as intervenções oficiais. A mesa de honra foi presidida pelo Vice-presidente do Município de Tondela, José António de Jesus, acompanhado pelo Pastor-Juiz e pelo Pastor-Mor da Confraria do Cabrito, respetivamente Lopes Ferreira e António Dias, pela Vice-presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, Olga Cavaleiro e pelo anfitrião, Horácio Rodrigues, Presidente da Junta de Freguesia de Molelos. Destacamos em breves palavras as mensagens dos intervenientes. Da confraria, as alocuções tiveram o mérito de realçar a pujança da confraria do cabrito, consubstanciada no VI Capítulo que se estava realizando. Por parte da Vice-presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, a certeza de que o movimento nacional das confrarias, seus objetivos, anseios e concretizações estava plenamente demonstrado na dinâmica das suas realizações. Tondela, o Caramulo e o cabrito estavam neste caso também de parabéns.
Por último a intervenção do Sr. Vice-presidente e Vereador do Pelouro da Cultura do Município. A sua intervenção pautou-se com o regozijo, pelo facto de em Tondela, mais uma vez, um acontecimento de grande repercussão social e cultural, estar a acontecer na capital nacional do barro negro: a dinâmica criada em torno da promoção da Serra do Caramulo, do cabrito, mas igualmente de todo o Concelho e da importância deste facto nas tradições culturais e sociais da região. E saudar a Confraria Gastronómica do Cabrito e da Serra do Caramulo pelo trabalho pioneiro, conjuntamente com diversas entidades concelhias, na divulgação da Serra, do Concelho, dos valores concelhios e guardiã das tradições ancestrais das nossas gentes.
Após a entrega de lembranças aos representantes das confrarias presentes, rumaram os confrades e confreiras ao Hotel do Caramulo, para aí saborearem o cabrito assado no forno, numa assadeira, de barro negro de Molelos. Não sem antes ficarem na foto de família, tendo como pano de fundo o edifício do Museu do Caramulo.
Uma boa jornada gastronómica e cultural para Tondela.
Divisão de Cultura
